A passo de caranguejo
Penso recordar como título de uma recolha de
contos de Umberto Eco, esse mago da semiótica e dos seus recursos aplicados à
cultura medieva, entre outras.
Lembrei-me desse titular porque tudo parece
estar em regressão, e não refiro as economias que essas são cíclicas e andam ao
sabor das movimentações e flutuações especulativas e financeiras.
Para qualquer lado que me vire só vejo
disparates, falsidades, notícias forjadas e raras, muito raras verdadeiras,
pesporrência abunda, de gente que nem sei a que título bolsa, mas na linha
desse.
Vejo gente que prezo em contradição com tudo o
que fez ou afirmou e afirma apoiar ditaduras, golpes ilegais, ofensas ao
direito e até vigarices sem o mínimo pudor ou fingindo desconhecimento dos
factos.
Em nome de princípios atropelam-se princípios,
e os compadrios alastram como óleo derramado ao sabor dos poderes.
o que estará aqui a fazer um piloto da 1ª guerra mundial?
Fait-divers
monopolizam as atenções do povo ( madames, tricas e licras, ou desastres
que também vivem na medida da atenção dos holofotes) que vive dessas no
news e dos orgasmos golais, cada vez
mais diários e a ocuparem espaço e tempo.
Uma discussão sobre cinema (mas que cinema? Só
temos o refugo dos USA!) ou sobre literatura (qual se esta de agora parece
pasta de dentes? E os clássicos, já ninguém os quer!), teatro, se ainda
souberem o que é, aqui ali e acolá vale o tempo fora da caixa!, mas são raras
as companhias que animam depois de espectáculo conversas e debates, como por 3
vezes o ano passado me aconteceu em Madrid.
Espaço para discutir, com tempo e sem sufoco a
sociedade e a sua organização... esse então nem vê-lo, se o houver lá está logo
um “estrangeiro” ou um sabe-tudo a encher-nos com duas horas de camartelo a que
se segue a bênção.
Vemos falsificações por todo o lado erigidas a
base de doutrinas, ainda recentemente lá me voltaram com a cantilena do
Viriato... mas quase toda a nossa história é uma invenção e mistificação
(padeiras virtuais, escaramuças transformadas em épicas, cobardes transformados
em heróis, factos e factos adulterados e adulterados, a Maria da Fonte
transformada em revolucionária, e o Alvares Pereira em patriota)
Mas a passo o caranguejo pouco pode fazer.
O futuro, a não ser que se acabe, é imprevisível.
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